sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Um "pequena" partilha...

" (...) Percebi que o coração era o centro de tudo. E que o meu coração - tal como o coração de todos os homens - durante demasiado tempo esteve carregado de pesos inúteis: o peso da ignorância, da confusão e do afastamento.
A verdade manisfestou-se então em absoluta plenitude. E tornou, com a sua luz, tudo claro.

O que tem tudo isto a ver com o perdão? Comecei pelo mal, pelo ódio, para chegar à mais plena manifestação da Graça.

Mas o perdão?

Muitas vezes pensa-se no perdão como algo que se pode conceder a quem nos feriu de forma grave - e esta é seguramente uma das suas formas mais altas.
Ou então considera-se o perdão como uma obrigação de indulgência para com a maldade, uma espécie de tirania melosa imposta àqueles que se declaram cristãos em virtude do «ofercere a outra face».

Mas a isto, mais do que perdão eu chamaria «perdonismo», ou seja, a paródia deteriorada de um sentimento mais rico e mais complexo.
Raramente pensamos no perdão como um sentimento virado para nós mesmos.

« Reconciliem-se com vós próprios, reconciliem-se com a vossa infência. Sem reconciliação não pode haver nem liberdade nem amor», disse frère Roger no encontro de Taizé, no passado Dezembro em Milão.
Pois creio que a reconciliação é a palavra-chave que temos de compreender.

O que é a reconciliação?

A reconciliação é o percurso do reconhecimento da nossa fragilidade e a aceitação do nosso passado, seja ele qual for.
É este o percurso que torna o homem realmente livre e realmente capaz de amar.
O homem que perdoa, o homem reconciliado, é, antes de mais, o homem que não tem defesas, que não tem barreiras, que não está num ponto em que a verdade tem só uma cor.
O homem reconciliado consigo mesmo - e logo com o seu projecto - sabe que a verdade não é uma cor, mas sim uma luz. Uma luz que pousa em todos os lugares, iluminando, dando a cada coisa uma respiração mais ampla. Por isso acho que o perdão não é uma demonstração de bons sentimentos, mas um percurso longo e dfícil de despojamento progressivo que leva o ser humano a viver plenamente a sua condição de filho.

(...)

Mas para nos perdoarmos é preciso conhecermo-nos, reconhecermo a pobreza dos nossos sentimentos e o medo da nossa liberdade. Só assim, a partir da consciência dos nossos limites e da nossa fragilidade, pode começar o processo de reconciliação. Connosco e, logo, com os outros.
Só a partir daqui pode começar a construção de uma verdadeira justiça.

O homem reconciliado é o homem que cumpriu até ao fim o seu caminho de realização espiritual. (...)
É o homem que já não conhece o orgulho nem a presunção. Está então totalmente disponível para o amor.

«A lógica do amor é uma espécie de não lógica», explica a Irmã Irene a Andrea, em A Alma do Mundo «Muitas vezes entra por caminhos incompreensíveis à nossa inteligência.»
Há no amor gratuidade, é isto que não conseguimos aceitar. Segundo a lógica normal, tudo tem um peso e um contrapeso. Há uma acção e uma relação. Entre uma e outra há sempre uma relação conhecida.

« O amor de Deus é diferente, é um amor por excesso. A maior parte das vezes, em vez de concertar, subverte os planos. É isto que surpreende, que assusta. Mas é também isto que permite que o filho perdido volte para casa, acolhido não pela raiva mas pela alegria.»
Errou, foi confuso, talvez tenha feito mal, mas depois terminou por regressar. Não regressar por acaso, mas escolhe.

«Escolhe voltar para a morada do pai.»"

Susanna Tamaro

Hoje apenas quero partilhar contigo este "pequeno" excerto deste livro.

Uma braçada amiga

6 comentários:

Fá menor disse...

E que bela partilha!

Bom fim-de-semana

Bjs

Fa-

Pinguim Alegre disse...

Apesar de ser um pouco grande...

Mas não fazia sentido de outra forma!

Obrigado!

Bjs

Rafeiro Perfumado disse...

Preferia que partilhasses uma fatia de bolo, ou o prémio do Euromilhões, mas pronto...

Pinguim Alegre disse...

Amigo rafeiro, o bolo faz-te mal aos dentes... E o prémio do Euromilhões... faz-te mal à carteira! lolada!

Ana Pinto Leite disse...

"Deus é Amor,
atreve-te a viver
por amor..."

(Taizé)

Mais um livro a juntar à minha biblioteca!

Obrigada.
Beijos,
Ana

Pinguim Alegre disse...

Ana, espero que gostes do livro.

Bjs

"Podemos converter alguém pelo que fazemos nunca pelo que escrevemos."

H.P.